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Channel: De Mãe para Mãe - Infertilidade
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A minha experiência com a infertilidade

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Gostaria de partilhar a minha experiência com a infertilidade. Andei a tentar durante mais de 4 anos. Ao fim de 1 ano de tentativas fiz os exames (no privado: paguei 150€ pela histerossalpingografia - se fosse agora tinha tentado ir logo para o hsjoao) e fomos diagnosticados com "infertilidade inexplicável", a única coisa que se detetou foi um ligeiro hipotiroidismo e ando a ser medicada com eutirox 50 desde então.
Tentamos vários ciclos de dufine sem sucesso, incluindo alguns com injeção de pregnyl em data monitorizada pela médica, com ecografias.
Entretanto fui para o hospital de São João, fiz um ciclo de letrozol e quase de seguida para uma iiu (inseminação artificial). Nada resultou. A iiu foi no verão, em março seguinte chegou a nossa vez de fazer uma fiv. Esta fiv não resultou e voltei à lista de espera para fazer nova fiv no ano seguinte. Esta fiv (pelo que vi no relatório final) foi uma icsi e tive sucesso, estando agora grávida dos dois embriões que foram implantados.
Por que resultou esta e nenhuma das outras tentativas resultou? Na realidade não sei ao certo, mas posso de facto apontar um conjunto de diferenças entre elas:
- na primeira fiv eu vinha na sequência de uma série de tratamentos com indução de ovulação, ou seja, "carregada" de medicação e hormonas. O endométrio estava mais fino. Na segunda vez eu tinha passado por um ano inteiro sem qualquer medicação (a não ser o eutirox todos os dias e o ácido fólico quando me lembrava).
- a qualidade dos embriões: na primeira vez transferi no 4o dia dois embriões 13B e Comp; na segunda vez transferi no 3o dia dois embriões 8A e 8AB, "dois embriões muito bonitos", como disse a bióloga no dia da transferência.
- a medicação usada no tratamento foi também diferente. E, não sei se da medicação se do meu estado de espírito, da primeira vez andava mais ansiosa e irritável, sentia mesmo que a medicação me deixava alterada, e da segunda vez não senti nada, até andava mais calma.
- Da primeira vez tive atestado de uma semana depois da transferência. Não saí de casa durante vários dias, cama-sofá-wc. Foi bom o repouso, andava mesmo a precisar mas ao mesmo tempo estava sempre a pensar naquilo. Da segunda vez não meti atestado. Fiz "vida normal", tendo apenas em conta não pegar em pesos, minimizar as viagens de carro, evitar subir escadas, trabalho mais leve (entretanto meteram-se as férias e ajudou).
- na primeira vez contei aos meus familiares mais próximos, da segunda ficou só entre nós. Para mim acho que libertou alguma pressão, embora ao marido se calhar custou-lhe essa parte de fazer "segredo", que era novidade para nós.
- Na segunda vez era tal maneira veterana nos tratamentos que ia muitas vezes sozinha. Calhou de ele estar a viajar numa parte do tratamento e fiz tudo sozinha, "numa boa", pois já não era novidade para mim. Também como tinha a referência do 1o tratamento, fiz um calendário e consegui prever mais ou menos quando seria o dia da punção, da transferência, organizando a minha vida para minimizar ao máximo o impacto das faltas que ia ter no trabalho e assim conseguir não dizer nada a ninguém.
No final da nossa primeira fiv falhada falamos muito os dois sobre o que devíamos fazer. Apesar de já estar com 35/36 anos, andávamos cansados dos tratamentos e não quisemos gastar uma fortuna no privado. Ao mesmo tempo, e acho este pormenor extremamente importante, fomos pensando no que seria a nossa vida se não tivéssemos filhos. Pela primeira vez começamos a fazer planos considerando que não íamos ter filhos e para mim foi extremamente libertador. É possível ser feliz sem filhos e posso pensar em todas as vantagens de uma vida descontraída, coisa que, aliás, qualquer casal com filhos pode facilmente enumerar. No nosso caso, começamos a pensar em coisas como independência financeira e reformarmo-nos mais cedo, viajar mais. Até pensamos em arranjar uma autocaravana para viajar muito tempo, se bem que eu acho que eu não sei se me ia dar com essa experiência.
Eu sei que há pessoas que não se vêem sem serem mães/pais, a vida não tem sentido para essas pessoas, mas a vida é para sermos felizes.
O que eu quero dizer é que não acho nada bem que se fique com a vida "pendurada" anos e anos por uma coisa que pode nem acontecer. Não fazer a nossa felicidade depender apenas disso.
Uma amiga minha dizia "todas as pessoas que fizeram tratamentos mais tarde ou mais cedo conseguem". É possível que tenha razão.
Sem pressão.
Finalmente não podia deixar de dar uma palavra de agradecimento a todas as pessoas do serviço de Medicina de reprodução do hospital de São João. Simplesmente acho-as todas de uma sensibilidade excecional. Adorei todas as médicas (a dra. Sandra a médica que "me engravidou", a dra. Ana Margarida que nos deu a notícia que eram dois e mediu tudo direitinho, ...), as enfermeiras todas diferentes mas têm mesmo perfil para aquele serviço, a enf. Cláudia, a enf. Cristina Lisboa, a enf. Maria José Madureira, e, finalmente, a Susana, que tem realmente uma sensibilidade especial para trabalhar lá, tratando-nos pelo nome, dando informações corretas, explicando direitinho, ficando feliz por nós. É de facto um hospital público, com as demoras no atendimento habituais, as listas de espera, mas de facto só posso dar elogios a toda a equipa.
Também ouvi muitos elogios ao hospital de Gaia mas não posso falar por experiência própria.
Esta é a minha experiência que partilho aqui.
E agora que leram tudo o meu conselho para quem está a tentar é: saiam deste fórum! Obviamente que é bom tirar alguma dúvida mas o mínimo possível, de resto é só para nos meter minhocas na cabeça e colocar ainda mais pressão.
Sem pressão. O que tiver que ser, será.


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